quarta-feira, 29 de junho de 2011

Intelectualidade de Merda



Uma verdade cruel, mas gritante, que aprendi na faculdade é o quanto é fácil ter pose de intelectual. Até eu consigo fazer isso.
Basta você ficar de olho em qualquer coisa que seja moda e meter o pau nela e em qualquer um que goste disso. Você pode até gostar disso, mas da forma mais oculta possível. E que Marx te proteja se descobrirem que você sabe o refrão de uma música do Luan Santana!
E na dúvida sobre o que comentar? É simples, fale que é culpa do sistema capitalista que explora os mais pobres, ou diga que fulano de tal não entende Marx, que na verdade ninguém entende o pobre Karl melhor que “insira qualquer nome obscuro advindo do leste europeu”.
Agora, se você quer ser o melhor, o mais intelectual e o mais chique de todos é mais fácil ainda. Se ligue no nome daquele pensador meio obscuro, cujos únicos livros disponíveis desse lado da Linha do Equador estão em aramaico, que aquele professor fodão vive citando\recomendando e sair por aí dizendo que o cara não é tão bom assim, que sua visão do assunto é restrita\positivista\marxista demais. Como o tal pensador é obscuro e impossível de ler todo mundo vai babar porque (1) você conseguiu ler o fulano e (2) ninguém vai conseguir ler pra te rebater.
Outra forma de ser considerado um ser pensante magnífico é fingir um desprezo invencível pela moda. Não importa que você passe horas, dias, semanas, planejando um figurino, ele tem sempre que ter um ar de “Ah, peguei a primeira coisa que vi!” e, de preferência, vir acompanhado do velho discurso “Moda é pra quem não tem o que fazer\pra quem não quer pensar\pros ricos”, como se hoje qualquer criatura com uma lan house e dois reais no bolso não pudesse ficar de olho no que acontece na Semana de Moda do Cazaquistão!
Também é de bom tom A-D-O-R-A-R a Mafalda, mas tem que ser aquela coisa de idolatrar mesmo, de dizer que nunca na história do universo alguém fez algo melhor do que a obra do Quino, que nem o próprio Quino fez algo que chegue aos pés da Mafalda.
Um problema sério enfrentado por esses nobres intelectuais, que desejam ser o crème de la crème da sociedade é que, as vezes um artista\banda\livro que eles gostam se torna popular. O que fazer então? Simples, ao menor indício de popularização você começa rapidamente a dizer, com a maior cara de pena, que o infeliz em questão se vendeu pra mídia e que perdeu sua alma artística. Assim, além de parecer sofisticado você evita ser colocado na mesma panelinha que qualquer outro pobre mortal.

(não que algum pobre mortal queira estar na mesma panelinha que você)