segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Reflexões


A Noiva do Vento - Oscar Kokoschka

Segunda passada (26/07) fomos assistir a apresentação da Orquestra Sinfônica no Teatro Municipal de SJC.
Eles tocaram a Sinfonia Nº 104 "Londres", de Haydn e o sexteto de cordas "Noite Transfigurada" de Arnold Schöenberg. Durante a execução de "Noite Transfigurada" foi exibida uma animação, no fundo do palco, com a imagem que ilustra esse post.
Eu devo confessar que entendo lhufas de música erudita, apenas percebo o que me agrada, e confesso que a sinfonia de Haydn me arrebatou desde o início, chegando a me deixar com os olhos úmidos.
Enquanto ouvia a música e via os músicos e o maestro (Marcello Stasi) tão arrebatados no exercício de expor aquela obra para o público eu ficava me perguntando como é possível que a humanidade seja capaz de criar uma obra tão bela e, ao mesmo tempo, crie algo tão terrível quanto os campos de concentração?
Que bicho somos nós que nos extasiamos com uma obra de arte, que podemos passar horas e horas olhando as pinturas dos grandes mestres renascentistas, mas fechamos os olhos para a fome e a miséria alheias?
Como é possível que tanta gente possa desperdiçar todos os dias alimento enquanto tantos passam fome? Como é possível que alguém ainda hoje possa apoiar uma atitude racista/facista/sexista?

Como?!

Nessas horas minha desesperança com a humanidade cresce vertiginosamente.

Ironicamente, após o intervalo, tivemos "Noite Transfigurada", obra baseada num poema de Richard Dehmel cuja "(...) obra descreve um homem e uma mulher, caminhando através de um obscuro bosque e, sob a luz do luar, a mulher confessa ao seu amado estar grávida de outro homem.", dada minha falta de confiança no ser humano eu já imaginava o homem irado, matando a mulher a punhaladas, mas o que acontece é que ele, devido ao amor que sentia por ela e ao amor que ela lhe havia dado diz então que a perdoa e que, por obra desse imenso amor, aquele filho que ela carregava seria transfigurado para filho dele também.
Confesso que, infelizmente, não me arrebatei tanto com essa parte do concerto, talvez porque sou naturalmente pessimista e não acredito muito em finais felizes, talvez porque a própria orquestra não se mostrava muito segura e desenvolta na execução da peça (foi a primeira vez que foi executada em público).
Enfim, ouvi a música pensando em qual seria minha reação se eu fosse o homem em questão e até agora não cheguei a conclusão nenhuma...toda a vez que me decido por não perdoar me sinto tão cruel quanto aqueles que fecham seus olhos a miséria do seu semelhante e que negam perdão aqueles que se arrependem e, toda a vez que me decido por perdoar me pergunto se não estou perdoando apenas para tentar ser melhor do que aqueles que eu critico.

É por isso que eu prefiro os animais, tudo mais simples e com menos crueldade.


Fonte da imagem e bom texto sobre o quadro: http://www.etudogentemorta.com/2009/12/a-noiva-do-vento/

Um comentário:

Caio disse...

Que seja boa a recopensa, haha.

Besos!