quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Amor



Eu sou monogâmica.
Talvez essa afirmação possa parecer estúpida de tão óbvia, mas o caso é que as pessoas as vezes se surpreendem quando levam em conta que quem diz isso é uma universitária de 23 anos que faz História na USP, afinal, eu devia ser é uma maconheira que quer mais é transar com meio mundo.
Acontece que eu não sou nada disso. Quase não bebo, nunca usei drogas e nem tenho nenhuma vontade de usar um dia e, ainda por cima, sou monogâmica.
Sou monogâmica porque só consigo me envolver com alguém estando apaixonada e só consigo me apaixonar profunda e intensamente e não há espaço, em mim, para estar intensamente apaixonada por mais de uma pessoa ao mesmo tempo, logo sou naturalmente monogâmica.
O que não significa que eu seja contra a poligamia. Eu sou é a favor do direito de escolha de cada um. Acho que se um casal vive bem em um relacionamento aberto, ótimo pra eles, ninguém tem o direito de apontar o dedo e dizer que eles estão errados, assim como ninguém tem o direito de me dizer que eu tenho a obrigação de topar um relacionamento aberto.
Acontece que eu sou possessiva. Sou mesmo e assumo isso, até porque depois de assumir a possessividade fica bem mais fácil não se deixar levar pelos monstros no nosso armário mental que tentam nos convencer que fulano pode te trair a qualquer momento. Além disso, eu não gosto apenas da sensação de possuir alguém (porque, vamos combinar, possessividade é basicamente isso!), mas também gosto muito da sensação de pertencimento a outro.
Gosto muito, muito mesmo, quando Othon me abraça e diz “Minha!”. Dá um calorzinho gostoso aqui dentro, de saber que quem eu amo me ama da mesma maneira.
E nesse sentido de pertencimento é que eu gosto tanto das nossas alianças. Porque eu as olho não como um símbolo pro resto do mundo (mesmo sabendo que elas também tem essa função), mas como um símbolo nosso, só meu e dele, de que a gente se ama, de que a gente se pertence e que, mesmo fisicamente longe grande parte do tempo, estamos sempre juntos, mesmo que só em pensamento.
Pra mim elas também são um símbolo de que nós dois topamos enfrentar a loucura que é construir essa relação, porque a gente se ama muito, mas também é muito diferente em certos aspectos e, as vezes, quando eu tenho vontade de simplesmente desistir, porque parece que a gente nunca vai dar certo (aqueles cinco minutos em que você sente vontade de abrir a cabeça da pessoa com um machado pra ver se faz aquela idéia entrar ali, sabe?) eu olho pra minha mão, vejo essa aliança e lembro do quanto eu o amo, do quanto a gente já viveu juntos e percebo que, se ele aceitasse todas as minhas idéias malucas ele não seria ele mesmo e eu não o amaria tanto.
Por isso que, pra mim, essa coisa simples, esse círculo feito em prata é tão importante, porque me lembra que eu o amo pelo simples fato de ele ser ele.


Imagem daqui (achei via google): http://liviabvb.blogspot.com/2010/06/alianca.html

Um comentário:

Barbara disse...

tamires, leia "a menor mulher do mundo", da clarice, em "laços de família". o conto é sensacional e há uma frase que quando li me definiu, e que guardei comigo: "Pode-se mesmo dizer seu 'profundo amor', porque, não tendo outros recursos, ela estava reduzida à profundeza".