quinta-feira, 5 de junho de 2008

Amizade - gratuita e sem outras intenções

Conversas que giram entre namoros que deram errado, meninas neuróticas, solidão, suicídio, depressão, sexo, bebedeiras, Bjork, trilhas sonoras legais, filmes de Clint Eastwood, sexo, pessoas estranhas andando na rua, “vamos atropelar alguém”, provas e trabalhos, falar mal de gente que conhecemos, família e faculdade.
Engraçado, quando o conheci ele era uma pessoa muito mais quieta e estava bem mal, mas ainda assim nossa identificação foi imediata e falamos sobre coisas meio barra pesada, tipo suicídio e auto-flagelação, tudo naturalmente, acho que sacamos logo que ali estava alguém que entenderia tudo o que tínhamos pra dizer. Soube que ele ia prestar vestibular pro curso que eu já estava fazendo, desejei sorte e que dali alguns meses, eu pudesse sujá-lo um pouco de tinta.
Meses se passaram, não tive mais notícias, não peguei e-mail, telefone e só sabia seu primeiro nome, deixei as coisas seguirem. Saiu o resultado do vestibular, tinha uns quatro caras com o mesmo nome e, sem o sobrenome, não consegui descobrir se havia passado ou não, me restou torcer pra encontrá-lo algum dia.
Primeira aula de Ibérica desse ano, vi de longe e não tive certeza, também não veio falar comigo, achei que tinha me enganado.
Segunda aula, tinha que arranjar algum grupo de seminário, não agüentei e fui perguntar se ele era quem eu estava pensando, não só era, como também lembrava de mim. Sentei ao seu lado e logo fui apresentada para um outro rapaz, tão sem grupo quanto nós e, aos poucos, fomos arrecadando gente pro nosso grupo.
Semana seguinte, aula e mais conversas, biblioteca e depois perder a hora da aula conversando no estacionamento, final da história, novamente trazida em casa e no dia seguinte, matar aula pra ir a cervejada com ele e o outro moço tão-sem-grupo-quanto-nós. Risadas e mais risadas e ser deixada na porta de casa depois da meia noite.
Rotina de conversas cada vez maiores, apresentar amigas solteiras pra ele, torcer pra dar certo e consolar quando deu errado, ajudar a achar livros na biblioteca e trocar bilhetes durante os seminários pra espantar o tédio.
Durante as conversas, a sensação de que, ali estava alguém que nos entendia muito bem, que passava por muitos conflitos parecidos, que tinha altos e baixos (profundos), que se apaixonou e sofreu, que estava apaixonada e feliz, que não tinham uma vida perfeita, que muita coisa podia ser melhorada, mas que ainda assim, hoje as coisas eram menos difíceis por contarem com alguém que os entendia daquela maneira.
Se estavam apaixonados? Muito, mas não um pelo outro. O sentimento existente ali era algo ainda muito novo, mas que cheirava a fraternidade pura, daquele tipo que faz você esquecer se o outro ali em frente é ou não do mesmo sexo que você, porque, honestamente, isso não faz diferença, você se identifica com a mente daquela pessoa, não com seus feromônios.
Hoje ele é um rapaz que ri muito mais, tanto que, às vezes, ela tem que mandar ele ficar quieto. Parecem estar menos solitários, provavelmente porque sabem que se a atitude mais drástica for tomada, alguém, ao menos uma pessoa em todo o mundo, vai entendê-los, vai saber o porque disso e não vai ficar julgando se o que foi feito era ou não moralmente certo, porque só quem já carregou, ou carrega esse peso, pode entender o que se faz para se livrar dele.

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