quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Amadurecer



Sou pagã há quase uma década e desde o início do ano celebro os Esbats com dois grandes amigos-irmãos. O mais interessante é que decidimos a cada Esbat focar em uma Deusa e na lição que podemos aprender com ela.
De início a proposta parecia fácil. No primeiro Esbat celebramos Minerva e pedimos lições para alcançar a sabedoria, no segundo celebramos Astréia e tentamos entender a justiça e assim foi indo, com cada Deusa uma lição.
O que parecia fácil entretanto se mostrou difícil, pois para entender os conceitos e aprender o que a vida estava me trazendo tive que olhar cada vez mais para dentro, sem filtros, sem máscaras, sem piedade.
E olhar pra dentro é uma das experiências mais chocantes que se pode fazer. Ver como se é de verdade. Entender que os defeitos que vemos são apenas a ponta do iceberg, que na verdade temos tantos que nem percebemos! Ou ainda, perceber que certas reações que achavamos totalmente racionais e bem fundamentadas na verdade eram apenas as reações que qualquer criança teria.
É como fazer análise, mas um pouco pior, pois você mesmo enfia o dedo (e o sal, o vinagre, o iodo e o que mais estiver por perto) na ferida e você mesmo precisa colocar um freio na sua auto crítica, encontrar o equilíbrio entre apontar defeitos e se martirizar. É realmente muito duro entender sozinho que você não é a pior criatura do mundo e não deveria nem existir apenas porque tem reações infantis, é um tanto egoísta e não sabe demonstrar sentimentos. Não nego que as vezes caio numa poça de auto piedade e outras numa de auto desprezo, mas o importante é saber sair dali e não se deixar chafurdar infinitamente.
O lado bom disso tudo é perceber que, na base porrada psicologica e emocional, estou amadurecendo. Aprendendo a não enfrentar o mundo a ferro e fogo, entendendo finalmente como é bom ser como a água, que flui, desvia, passa por baixo, sempre que possível encontra outro caminho e só passa por cima destruindo o que tem pela frente quando não há outra maneira.
Sou escorpiana, o que significa que geralmente prefiro passar por cima e destruir, para reconstruir direito, mas nesses últimos seis meses fui entendendo o quão sábio é o rio que vai cortando pelo subterrâneo, acariciando pedras, fertilizando a terra sem ser visto e sendo fértil e gentil como apenas a natureza pode ser.

Ainda não estou em paz, ainda tenho muita coisa para mudar, mas sinto que finalmente encontrei um caminho. Doloroso, afinal derrubar conceitos e idéias pré existentes é uma das coisas mais duras que se pode fazer, mas que no final é gratificante.
Ainda não sou uma fruta madura, pronta para ser colhida, mas pelo menos já sou um pequeno broto, que numa primavera próxima trará alegria e doçura pra quem tiver coragem de se enfiar entre os espinhos e o colher.

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